Cantem outros a clara cor virente 
Do bosque em flor e a luz do dia eterno... 
Envoltos nos clarões fulvos do oriente, 
Cantem a primavera: eu canto o inverno. 
Para muitos o imoto céu clemente 
É um manto de carinho suave e terno: 
Cantam a vida, e nenhum deles sente 
Que decantando vai o próprio inferno. 

Cantem esta mansão, onde entre prantos 
Cada um espera o sepulcral punhado 
De úmido pó que há de abafar-lhe os cantos... 

Cada um de nós é a bússola sem norte. 
Sempre o presente pior do que o passado. 
Cantem outros a vida: eu canto a morte... 

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